segunda-feira, dezembro 28, 2009

Faca


Eu seria perfeitamente capaz de cortá-la.

Marcar seu rosto, deformar sua face e até desmembrar alguns pedaços. Torná-la feia, feia para sempre. Incapaz de atrair nada e ninguém, nem de ser interessante para quem quer que seja.

Ah como eu sou idiota!

Como se isso dependesse de alguma estética ou de alguma característica física. Talvez, para ela, o desafio se tornasse maior, mas isso nunca seria barreira intransponível. Da forma como ela lida com o mundo, tudo poderia até se tornar melhor, seria apenas mais um desafio, para tornar seus dias mais interessantes. Desafiadores.

E eu estaria aqui, sozinho, com uma faca na mão.

quarta-feira, dezembro 16, 2009

Reconhecimento de padrões




Acabei de identificar uma padrão em mim, com ele confirmei o meu pavor pelo fracasso. Venho me dando conta, de que tenho muito medo de rejeição e a rejeição não deixa de ser um fracasso. Tenho um medo doentio de ser rejeitado, o que seria pra mim o fracasso em conquistar alguém, o fracassar em me manter interessante.

Esse padrão ficou evidente agora, mas a primeira vez em que lembro das grandes consequências desse medo foi numa das mais pulsantes passagens da minha vida: aos 16 anos, namorar Ela. Descobri que nós dois nos gostávamos quando éramos crianças e que esse reencontro só poderia ser um capricho do destino para fazer de mim o homem mais feliz do mundo, e eu realmente era. Até amar demais.

Amar Ela era uma coisa forte demais pra mim, ela era tudo o que eu poderia desejar (até hoje seria) mas a sensação de que eu gostava mais dela do que ela de mim, esse medo de um dia ser rejeitado me sufocava de uma forma que me impedia de manter o relacionamento saudável. Acabei. Eu não suportava a possibilidade de um dia ser abandonado, largado, esquecido. Ela não entendeu. Ninguém entenderia mesmo.

Neste exato momento me vejo olhando pra trás e me dando conta de que o padrão se repetiu, e repetiu-se mais de uma vez. Sofro da mesma forma que sofri da primeira vez e me dou conta da minha covardia. Enquanto sofria, mantinha minha posição de que tinha feito a coisa certa. Hoje eu sei que não, sei que fiz merda. Mas só sei, porque insisti no erro, coisa que não quero mais.

Eu costumava me orgulhar dos meus resultados em testes de reconhecimento de padrões, mas desse padrão quero me ver livre.

terça-feira, dezembro 08, 2009

O peito reclama




Sentir o peito doer profundamente e ininterruptamente é um sofrimento do qual eu me lembrava vagamente. A dor de sentir falta, de ver perder, de se sentir desrespeitado é algo que eu conhecia, não é novidade pra mim. No entanto, passar por isso sem ter alguém por perto pra abraçar, sem ver ninguém ao meu lado capaz de dizer algo que me acalente e, como pior de tudo, ter de calar essa dor pra que o mundo ao meu redor não note, têm elevado meu sofrimento à enésima potência.

Sem nenhuma piedade das minhas pernas bambas, sem respeito nenhum ao resto do corpo, meu peito parece querer sair, se livrar, deixar de fazer parte como se não quisesse pertencer ao grupo. Se contorce e deforma seu espaço como se não condordasse com o que o resto do corpo ou minha cabeça faz ou fez. Eu entendo o meu peito, a culpa não é dele.

Ele reclama por não ter sido ouvido antes, reclama por não ter tivdo voz e, só agora, com essa força desomunal se faz ouvir para deixar claro que foi ignorado. Que a filosofia de tomar decisões racionalmente vem ferrando com ele.