quinta-feira, janeiro 21, 2010

Quebrar a cara


Eu voltava para o trabalho, por volta das 14:20, atrasado, claro. Naquele ritmo de quem não tem pressa. Não era calma, tranquilidade ou relaxamento. Era medo.

Eu não queria trabalhar, eu não queria encarar mais um dia duríssimo, cheio de pressão, cheio de expectativas e frustrante. Encarar isso tudo é me jogar contra o muro da minha incapacidade.

Essa metáfora do muro é perfeita. Dura, áspera e representa muito bem a dor que sinto quando vou contra minhas limitações, sempre quebro a cara. E saibam os senhores que isso dói.

Eu não queria mais um dia de cara quebrada, muito menos assumir isso. Vinha protelando, vinha adiando o sofrimento. Não sabia eu que adiar o sofrimento e multiplica-lo são exatamente a mesma coisa.

segunda-feira, janeiro 11, 2010

Aprendendo

É um tanto assustador olhar para trás e ver como eu não estava preparado para algumas pessoas que conheci.

Tenho um monte de amigos, tive algumas mulheres e vejo que eu não estava preparado para alguns deles quando os encontrei. Tenho exemplos muito especias de gente que me faria muito feliz, de pessoas que eu deveria ter cuidado mais, que não entendi completamente e mais exemplos ainda de besteiras que fiz. Fiz muitas besteiras.

Sempre me assumi como socialmente limitado, como um cara que não entende muito bem de relacionamentos, que não sabe bem como lidar com gente. Essa opinião era fundamentada muito mais em conversas que me abriam os olhos do que propriamente em ter entendido as situações. Hoje entendo muitas delas, me assusto com minha incompetência social e mais ainda com a sorte que tive para encontrar tanta gente boa, linda e interessante.

Saber da minha limitação social eu sempre soube, o que eu não sabia era da minha incapacidade de entender o bem que me faziam certas pessoas. O carinho que depositavam em mim e sua importância, a genialidade das conversas, a importância dos telefonemas e toda a preocupação e cuidado expressos em gestos bem simples, nada disso era claro e eu era incapaz de perceber sua relevância.

Eu não estava pronto pra essa gente. Talvez hoje eu esteja, mas muitas delas não estão mais aqui, tenho desculpas a pedir e muito a trabalhar em mim para não ter mais esses sustos e para não perder mais o monte de gente massa que passa pela minha vida.

Devo também o sucesso de muitas amizades à maturidade dessas pessoas. Elas souberam como lidar comigo, foram capazes de entender minha inocência. É, inocência mesmo, eu nunca fiz nada por mal. As que entenderam isso acabaram se tornando grandes confidentes, são, em geral, as pessoas que me fazem melhor hoje. Além de muitas desculpas, tenho muitos agradecimentos a distribuir.

Obrigado.

sábado, janeiro 09, 2010

O mar é Shiva


A graça do mar é a renovação, é saber que as ondas vêm, que as ondas vão, que a água não vai estar no mesmo lugar. É saber que você pode ser levado ou trazido e que, ao contrário de um rio, o mar se volta para as mais variadas direções, que tanto pode lamber carinhosamente tuas pernas quanto com brutalidade acabar com tua vida.

Um banho num mar assim, imprevisível, renovou minha vida esses dias. Uma água bem fria e cheia de ondas, uma praia com a areia fina lotada de gente, e no céu aquele sol morno com vento refrescante lá pelo final da tarde às 19hs.

Tudo isso ou apenas isso ou justo isso, realmente não sei, desconstruiu em mim uma série de vícios que eu vinha inventando. Arrancou de mim essa necessidade de dependências, de sentir tudo profundamente e por tempo demais.

Como a vida, o mar tem graça quando não está parado, quando vai e vem, quando suja, lava, destrói e conserta. O mar é o Shiva do povo no Brasil, o mar foi meu Shiva esses dias. E, finalmente, a destruição para reconstruir faz completo sentido. O próximo passo é encontrar o filho de Shiva, Ganesha e esperar as outras benfeitorias das mudanças.